Asteroides que Ameaçam a Terra
Asteroides que Ameaçam a Terra
18 agosto 2014
Pércio de Moraes Branco
A possibilidade de um asteroide de grandes dimensões chocar-se contra nosso planeta não é muito grande, mas existe, e isso preocupa os cientistas desde o final de século XX. Eles estimam que ocorra um impacto sério dessa natureza a cada 100.000 anos.
O renomado físico brasileiro Marcelo Gleiser, professor do Dartmouth College (EUA), em artigo intitulado “Ameaças Celestes”, escreveu: “Sem querer parecer alarmista (mas parecendo), eu vejo essas ameaças celestes com bastante seriedade. De fato, a possibilidade de colisão de um asteroide ou cometa com a Terra é bastante pequena. Alguém a comparou com a probabilidade de uma pessoa ser atingida por um raio. Não acredito que a comparação faça muito sentido, pois não temos dados suficientes para calcular a probabilidade de uma colisão: os cálculos atuais dependem de levantamentos de colisões passadas na Terra e na Lua, cuja precisão é duvidosa. De qualquer modo, pessoas são atingidas por raios, e asteroides chocam-se com planetas. É importante olhar para os céus com respeito.
Entre 1990 e 2000, nove asteroides passaram a menos de 800.000 quilômetros. da Terra, o que equivale a duas vezes a distância da Terra à Lua. Em 1996, o asteroide JA1, de trezentos metros, chegou ainda mais perto: 460.000 quilômetros.
Em março de 2002, o asteroide 2002EM7 só foi percebido após passar a 461.000 km da Terra, 1,2 vez a distância daqui até à Lua. Ele tinha setenta metros de diâmetro, e sua trajetória estava alinhada na direção do Sol, tornando quase impossível detectá-lo com telescópios.
Bem mais recentemente, em fevereiro de 2013, um meteorito com estimadas sete toneladas caiu na Rússia com resultados inéditos: ferimentos em centenas de pessoas e danos em dezenas de prédios.
Existem pelo menos mil asteroides com até um quilômetro de diâmetro com órbita que pode convergir para nossa atmosfera. Eles são considerados potencialmente perigosos quando se aproximam a uma distância menor que vinte vezes a distancia da Terra à Lua.
O número de asteroides que nos oferecem risco muda com frequência, não só porque cerca de 250 novos corpos celestes desse tipo são descobertos anualmente, mas também porque alguns já conhecidos, após serem acompanhados e observados com mais detalhe, não se mostram perigosos. Em 2004, eram 52 os objetos em provável rota de colisão com a Terra.
ASTEROIDES QUE MAIS AMEAÇAM A TERRA
|
|
|
|
|
1950 DA |
1.400 |
Março de 2880 |
1 em 300 |
Pode causar tsunami com mais de 100 m de altura |
1997 XR2 |
230 |
Junho de 2101 |
1 em 10.000 |
O mais perigoso nos próximos 100 anos |
1994 WR12 |
110 |
Entre 2054 e 2102 |
1 em 10.000 |
|
2000 SG344 |
40 |
Entre 2068 e 2101 |
1 em 556 |
|
Fonte: Superinteressante
O tamanho de muitos dos cometas e asteroides que podem se chocar com a Terra pode parecer insignificante, mas é preciso lembrar que eles podem se deslocam com velocidades altíssimas, algo como 75 km por segundo, ou 270.000 km/h.
Corpos celestes com 1 km de diâmetro caem na terra em média uma vez a cada 200.000 anos. Em 1908, um objeto de apenas 90 metros, provavelmente um fragmento de cometa, caiu na Sibéria e destruiu 2.500 km2 de florestas. Se houvesse caído numa grande cidade, pode-se imaginar o que teria causado.
As chances de um corpo celeste de grandes dimensões cair sobre o mar são muito maiores do que cair sobre um continente. Mas, isso não nos livra do perigo, porque a queda provocará um tsunami, pondo em risco cidades litorâneas, mesmo algumas daquelas bem distantes do ponto de impacto. Um asteroide que caiu há dois milhões de anos na costa do Chile produziu um tsunami que se acredita ter atingido cem metros de altura e que arrasou a costa da Austrália e do Japão.
O que está sendo feito para defender a Terra
Por tudo isso que foi até aqui descrito, o monitoramento dos asteroides vem sendo feito já há algum tempo e hoje, discute-se qual seria a melhor maneira de evitar o choque caso ele venha a se mostrar uma possibilidade concreta.
A Universidade do Arizona (EUA) acompanha o movimento de 108 desses asteroides, considerados os mais perigosos. Outros oito programas semelhantes existem nos Estados Unidos.
Em setembro de 2000, três renomados cientistas da Inglaterra entregaram ao governo britânico um conjunto de recomendações para evitar que asteroides se choquem contra Terra.
No Brasil, a Universidade de São Paulo também possui seu programa de acompanhamento de asteroides próximos do nosso planeta.
A Nasa (Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço), órgão do governo dos Estados Unidos, desenvolve hoje a Missão Down, uma sonda que visitará os maiores corpos celestes do cinturão de asteroides existente entre Marte e Júpiter, de onde se acredita provirem a maioria dos meteoritos.
Esses programas começaram a dar resultados, e em 7 de outubro de 2008 ocorreu um fato histórico. O asteroide 2008 TC3, do tamanho de um automóvel, explodiu acima do deserto da Núbia, no Sudão e, apesar de ter se fragmentado em pedaços pequenos, alguns deles foram encontrado. Esse objeto foi o primeiro asteroide a ser detectado no espaço antes de cair sobre a Terra. Sabendo onde ele deveria cair, os cientistas foram ao local, encontraram os fragmentos e pela primeira vez puderam ver na mão e em microscópios um objeto que só havia sido visto nos telescópios.
Entre a sua identificação no espaço e a queda transcorreram menos de 24 horas. Alertados sobre sua chegada, astrônomos de diversos países começara a calcular sua trajetória e estudar a constituição do asteroide por meio da análise do espectro da luz solar refletida em sua superfície.
Apesar de a queda ter sido vista por várias pessoas, semanas após sua ocorrência ninguém havia encontrado fragmentos do asteroide. Mas, no início de dezembro de 2008, Peter Jenniskens, do Instituto Seti, da Califórnia (EUA), decidiu ir ao Sudão e lá, ele e Muawia Shaddad, da Universidade de Cartum, lideraram uma expedição com 45 estudantes e integrantes da universidade. Eles partiram em busca dos fragmentos e, em poucos dias, encontraram 47 pedaços do TC3, que explodira 37 km acima da superfície.
Os meteoritos encontrados eram, em certos aspectos diferentes de todos os até então conhecidos, pois mostravam carbono com indícios de haver sofrido altas temperaturas por muito mais tempo que os já vistos. Esse carbono, parecido com grafite, é o principal constituinte do meteorito, que foi classificado como um ureilito, um tipo extremamente raro, ao qual pertencem apenas 0,5% dos meteoritos conhecidos.
O asteroide Eros e a sonda Near
Em fevereiro de 2000, pela primeira vez foram obtidas boas imagens de Eros, um dos maiores asteroides que um dia poderão se chocar contra a Terra por viajarem em torno do Sol numa trajetória que passa relativamente perto daqui. Eros tem 442 quilômetros quadrados e crateras de até cinco quilômetros de diâmetro.
Prevê-se que seu choque com a Terra só ocorrerá daqui a 1,5 a 5 milhões de anos, mas deverá ser mais forte do que aquele que levou à extinção dos dinossauros, há 65 milhões de anos. A onda de choque que provocará será milhares de vezes maior que aquela que resultaria da detonação simultânea de todo o arsenal nuclear existente na Terra.
Preocupados em conhecer e entender melhor o asteroide Eros, a Nasa lançou a sonda Near (Near Earth Asteroid Rendez-Vous, ou Encontro com Asteroide Perto da Terra). A Near deveria se aproximar de Eros em fevereiro de 2001, ficando a apenas 500 metros de distância da sua superfície. Depois de receber dados enviados a partir desse ponto, o que já seria um sucesso, os técnicos da Nasa, tentariam colocá-la na superfície de Eros, algo nunca feito em um asteroide até então. Pois eles não apenas conseguiram isso, no dia 12 de fevereiro, como, para sua surpresa, a sonda ficou mais duas semanas enviando informações. O contato com a Near só se perdeu porque Eros foi se afastando e quando estava a 315 milhões de quilômetros da Terra, provavelmente já não conseguia mais captar a luz do Sol, necessária para que seus painéis solares produzissem eletricidade.
A escala de risco de choque com a Terra
Em junho de 1999, os cientistas criaram uma escala que mede o risco de colisão de um asteroide com a Terra. Esse risco varia de 0 a 10.
Para os próximos cem anos, todos os asteroides conhecidos oferecem risco zero, mas isso não tranquiliza os cientistas, porque os programas de rastreamento desses corpos celestes ainda são muito ineficientes. “É bem possível descobrirmos amanhã um asteroide novo que vai chocar-se com a Terra dentro de apenas dois anos”, disse o físico brasileiro Marcelo Gleiser. Ele afirmou isso treze anos atrás, mas a situação não deve ter mudado muito.
Destruir, desviar ou capturar?
A primeira ideia que surge diante da possibilidade real de um asteroide se chocar contra nosso planeta e procurar destruí-lo com explosivos. Hoje, porém, se sabe que isso não surtiria efeito e poderia até ser pior.
Testes feitos com explosivos nucleares mostraram os seguintes resultados:
- Se o asteroide tiver composição metálica, como um siderito (meteorito composto de ferro e níquel), o explosivo abrirá um buraco nele, sem fragmentá-lo.
- Se o asteroide for uma rocha compacta e resistente, como um basalto, ele será fragmentado, mas dando poucos fragmentos, ainda de grande tamanho.
- Se for uma rocha pouco resistente, como um arenito, se fragmentará em muitos pedaços, de pequenas dimensões, e em vez de um corpo caindo sobre a Terra haverá um número muito maior, o que poderá ser talvez pior, por atingir uma área bem mais ampla da superfície terrestre.
- Se o corpo celeste for um aglomerado de fragmentos rochosos, como uma grande pilha de cascalho, o explosivo apenas afastará um pouco os fragmentos mais próximos, sem alterar muito o conjunto deles.
Diante disso, levantou-se a ideia de desviar o asteroide de sua órbita original, afastando-o da rota de impacto contra a Terra. No início do século XXI, pensava-se provocar o desvio disparando explosivos ou projéteis metálicos contra ele. Atualmente, cogita-se a possibilidade de uma nave pousar no asteroide e lá pousada promover a mudança de trajetória.
Outra solução, aventada bem mais recentemente, é lançar uma nave com uma espécie de rede que, ao se aproximar do asteroide, se abriria e o envolveria. Feito isso, ele seria rebocado para outra órbita, onde poderia inclusive ser estudado pelos astronautas.
O orçamento da Nasa para 2014 inclui esse plano de capturar roboticamente o asteroide em rota de colisão com a Terra. A nave teria capacidade para capturar asteroides de até mil toneladas e o custo do projeto está orçado em aproximadamente 2,3 bilhões de dólares.
Os cientistas do projeto acreditam que poderiam começar a capturar asteroides em 2021 (e levar astronautas a Marte em 2030).
Fontes
BARBOSA, B. A pedra do Apocalipse. São Paulo, Veja, 23.02.2000, p. 108-109. il.
BOLSA de asteroides. São Paulo, Superinteressante, setembro 2004. il.
AGÊNCIA FAPESP. Caçadores de asteroides.http://agencia.fapesp.br/10277 , 26.03.2009, acessado em 17.07.2013.
GLEISER, M. Ameaças celestes. São Paulo, Folha de S. Paulo, 21.04.2002.
MANSUR, A. Perigo que vem do céu. São Paulo, Época, 25.09.2000. p. 88-90. il.
NASA quer capturar asteroides até 2025. Porto Alegre, Zero Hora, 13.04.2013. p. 24 il.