Pigmentos Minerais
Pigmentos Minerais
23 agosto 2015
Pércio de Moraes Branco
Os minerais têm um uso que não é muito conhecido, a não ser por pessoas que trabalham com tintas, que é o emprego como pigmento. Chama-se de pigmento um material colorido, finamente dividido, suspenso em um líquido que é usado para pintar, ou seja, uma tinta. Os pigmentos não servem apenas para dar cor à tinta, eles são úteis também para dar consistência e para ajudar a tinta a secar. Um corante pode ser pigmento ou tintura. Há uma diferença fundamental entre eles: o pigmento é insolúvel em seu solvente, enquanto a tintura é solúvel. Assim, um corante será um pigmento ou uma tintura dependendo do solvente utilizado.
Há milhares de anos a humanidade descobriu que alguns minerais poderiam ser assim empregados, e até hoje fabricantes de tintas e artistas procuram saber cada vez mais sobre as propriedades dos diferentes pigmentos. Alguns deles são minerais, portanto naturais e inorgânicos, mas há outros pigmentos que podem ser orgânicos (animais ou vegetais) ou artificiais. Os naturais são os mais estáveis, mais úteis e os que a humanidade conhece há mais tempo. Atualmente, porém, a maioria dos artistas emprega pigmentos sintéticos que obedecem a padrões estabelecidos pela American Society for Testing Materials - ASTM.
Propriedades dos Pigmentos
A principal propriedade de um mineral para ser usado como pigmento é obviamente a cor. O matiz, a pureza e o brilho da luz difusa que ela produz vão depender do grau de absorção, do tamanho e da forma das partículas do pigmento, bem como da textura delas. Para um material ser útil como pigmento ele deve ser quimicamente inerte para resistir à luz, ao ar e à umidade ou a combinações desses agentes. Se ele for resistente a altas temperaturas, será importante para dar cor a cerâmicas vitrificadas. Se a intenção é combinar dois ou mais pigmentos, é necessário que eles sejam inertes para que a cor de um não interfira na cor de outro. Nesse aspecto, os óxidos simples são os melhores, mas também têm boa estabilidade os sulfatos, fosfatos e carbonatos. Outras propriedades que também interessam no emprego dos pigmentos são o índice de refração, a densidade, a insolubilidade e a absorção de óleo.
Ocre
A palavra ocre designa qualquer um dos óxidos metálicos terrosos portadores de ferro. O marrom-ocre é obtido principalmente a partir da limonita (ou limonito, forma mais correta, mas menos usada). O vermelho-ocre vem da hematita, um óxido de ferro. O amarelo-ocre pode ser goethita (um hidróxido de ferro), limonita (mistura de óxidos hidratados de ferro) ou uma mistura de ambos.
Bolus
Bolus é o nome dado a misturas de argilominerais, principalmente montmorilonita, de cor parda a amarela, que incluem ocre, úmbria e terra de siena.
Terra de Siena (hipoxantita)
Terra de siena (ou simplesmente siena) é um pigmento de composição variável, contendo entre 40% e 70% de óxido de ferro, com quantidades menores de dióxido de manganês. Tem cor marrom e seu nome deriva da cidade egípcia Siena (atual Assuã). Aquecido a altas temperaturas, a siena natural, chamada de siena bruta, desidrata-se e fica vermelho-alaranjada, chamando-se então siena queimada.
Úmbria
A úmbria (também conhecida como terra de sombra) também é óxido de ferro, mas de cor mais escura que a siena. A exemplo desta, pode ser bruta ou queimada. É produzida principalmente em Chipre, daí ser chamada também de úmbria cipriota ou úmbria turca. A umbra de colônia (também conhecida como pardo de van dyk) varia de pardo-escura a preta e consiste em uma mistura de linhito com minerais argilosos.
Pigmentos Azuis
Uma das principais fontes de pigmento azul é o lápis-lazúli, uma rocha composta de lazurita e calcita, com hauynita, pirita, sodalita e outros minerais. Ele fornece o pigmento conhecido como ultramar. A lazulita foi também usada no passado como pigmento azul, e a azurita é um pigmento azul de alta qualidade. Outro mineral usado com essa finalidade é a calcantita.
Pigmento Branco
Os pigmentos brancos de uso mais antigo são o caulim e a greda, outro tipo de argila branca. A substância mais comumente usada para obter tinta branca é o dióxido de titânio, obtido de três minerais: rutilo, ilmenita e anatásio. Curiosamente, embora forneçam pigmento branco, os dois primeiros geralmente têm cor preta. O rutilo fornece pigmento branco brilhante; e o anatásio, por ser menos resistente, é usado principalmente em tintas para interiores. Um dos empregos de pigmento branco obtido de dióxido de titânio é no revestimento das pastilhas de chiclete.
A zincita, um óxido de zinco, é outro mineral usado para obter pigmento branco, este conhecido como branco da china. A tinta obtida com esse pigmento tem propriedades fungicidas (combate à formação de fungos), sendo, por isso, indicada para climas quentes e úmidos, como a região da Amazônia. Também o sulfeto de zinco (que forma três minerais, a esfalerita, a matraíta e a wurtzita) pode ser usado para obter pigmento de cor branca.
Vermelho-Cádmio
O vermelho-cádmio é obtido artificialmente a partir de um sulfosseleneto de cádmio, mas pigmentos vermelhos menos intensos são obtidos de um mineral, o cinábrio, um sulfeto de mercúrio. Também o realgar, sulfeto de arsênio, fornece pigmentos dessa cor.
Pigmentos Amarelos
O amarelo-cádmio é um pigmento obtido da greenockita, um sulfeto de cádmio, ou, o que é mais comum hoje em dia, sinteticamente. Outros pigmentos amarelos são obtidos a partir do ouro-pigmento, um sulfeto de arsênio.
Pigmentos Verdes
Um dos minerais usados para obtenção de tinta verde é a malaquita, um carbonato básico de cobre que tem sempre essa cor. O pigmento conhecido como verde do tirol é formado por glauconita - uma série de silicatos terrosos do grupo das micas - ou por celadonita - silicato de potássio, ferro e magnésio, também verde e também terroso, igualmente do grupo das micas. Pintores famosos, desde Da Vinci até Picasso, usaram um famoso pigmento verde obtido com o mineral volkonskoíta, um silicato hidratado do grupo da esmectita.
Pigmentos Pretos
Os pigmentos pretos provêm do carvão e de outras formas de carbono, como a grafita. O negro de fumo provém da queima de óleo e gás natural feita de modo a produzir fuligem. Também a molibdenita (sulfeto de molibdênio) fornece pigmento preto.
Fontes
BRANCO, Pércio de Moraes. Dicionário de Mineralogia e Gemologia. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. 608 p. il.
KIRSCH, Helmut. Mineralogia aplicada. Trad. Rui Ribeiro Franco. S. Paulo, Polígono, 1872. 291 p. il. p. 225-226.
HISTÓRIA da Terra. In: Tesouros da Terra. Minerais e pedras preciosas. S.l.: Globo/Planeta, s.d.
HOUAISS, A.; VILLAR, M. de S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
PEREIRA, A. P. et al. Análise química de pigmentos de minerais naturais de Itabirito, MG. Cerâmica, 53(2—7):35-41.
SYMES, R. F. Pigmentos. In: ______ Rochas & Minerais. Trad. Norma P. Carvalho. S. Paulo, Globo, [s.d.] 63p. il. p. 32-33.
Fotos
Pércio de Moraes Branco; R. F. Symes (as demais).