Saiba Mais - Geoquímica Ambiental e Geologia Médica

A Geoquímica Ambiental é a área do conhecimento que caracteriza o meio ambiente através do estudo da variação do conteúdo dos elementos químicos na litosfera, biosfera e atmosfera. Em alguns casos, inclui-se a antroposfera como meio principal de investigação, ganhando os processos antropogênicos oriundos da ocupação humana de um território, suas principais atividades para o plantio de alimentos, sua industrialização, seus aglomerados urbanos e consequentes resíduos adicionados aos diversos meios, interagindo entre si e com os materiais naturais preexistentes.

A partir de 2008, o DEGET iniciou estudos sistemáticos em geologia ambiental através da execução do Projeto Levantamento Geoquímico de Baixa Densidade no Brasil. O projeto foi realizado segundo os critérios e padrões do Mapeamento Geoquímico Internacional, estabelecidos pelos Projetos IGCP 259 (International Geochemical Mapping) e IGCP 360 (Global Geochemical Baselines); patrocinados por UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization), IUGS (International Union of Geological Sciences), IAGC (International Association of Geochemistry and Cosmochemistry), AEG (Association of Exploration Geochemists) e IAEA (International Atomic Energy Agency) e consubstanciados em 1995.

No período de 2008 a 2022, foram concluídos os levantamentos geoquímicos nos estados: Roraima, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Sergipe e Rio Grande do Norte. Possuem levantamento parciais os Estados: Pará, Santa Catarina, Amazonas, Bahia e Goiás. Foram coletadas no total 41.487 amostras de água fluvial e de abastecimento público, sedimentos ativos de corrente e solos, em área de aproximadamente 4.286.503 km², correspondendo a quase 50% do território brasileiro.

O projeto se baseia na amostragem de materiais de drenagem (sedimentos ativos de corrente e água), dos solos e da água utilizada para abastecimento humano e coletada antes do tratamento convencional nas estações de tratamento (ETAs). As amostras de materiais de drenagens representam bacias de captação com área entre 100 e 200 km², enquanto as amostras de solos representam uma área de 750 km² (uma amostra por folha 1:50.000).

Os produtos finais do projeto são atlas geoquímicos estaduais e de bacias hidrográficas, além da disponibilização dos dados analíticos na base geoquímica do GeoSGB.

Objetivos

Promover o conhecimento da distribuição dos elementos traço e compostos inorgânicos na superfície de todo o território brasileiro, fornecendo subsídios às outras ciências relacionadas ao setor mineral (prospecção e metalogenia), ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável, tais como: saúde humana e animal, agricultura e planejamento do uso da terra.

Geologia Médica

A Geologia Médica é uma ciência interdisciplinar que estuda as variações regionais na distribuição dos elementos químicos, principalmente os metálicos e metaloides, seus comportamentos geológico-geoquímicos, as contaminações naturais e antropogênicas e os possíveis danos à saúde humana, animal e/ou vegetal por excessos ou deficiências de tais elementos.

Tal especialidade desponta no cenário científico internacional como elo entre os profissionais das ciências médicas e os das geociências, em busca da qualidade de vida das populações.

Os seres vivos necessitam de alguns elementos químicos para manutenção de sua saúde. Para os humanos, são essenciais os macronutrientes Ca, Cl, Mg, P, K, Na, S, O, H e S e os micronutrientes Co, Cr, Cu, Fe, Mn, Mo, Se, V e Zn, além de F, I e Si. A carência e/ou o excesso desses elementos na ingestão de águas, alimentos e ar pode acarretar prejuízos à saúde.

Diante disso, foi instituído em 2003 o Programa Nacional de Pesquisa em Geoquímica Ambiental e Geologia Médica - PGAGEM, sob a coordenação do Serviço Geológico do Brasil - SGB/CPRM. Com atuação multi-institucional e interdisciplinar e com resultados multiusos, o PGAGEM foi elaborado por pesquisadores do SGB, da Universidade de Campinas - Unicamp, da Universidade do Estado de São Paulo - USP, da Universidade Federal do Estado do Pará - UFPA, da Universidade Estadual de Londrina - UEL, da Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP, do Serviço Geológico do Paraná - Mineropar, do Instituto Evandro Chagas, do Instituto Adolfo Lutz, da Escola Nacional de Saúde Pública - ENSP (Fiocruz) e da Empresa Brasileira de Agropecuária - Embrapa (Solos).

O estudo das propriedades dos elementos e íons é fundamental para compreender seus comportamentos nas condições físico-químicas e termodinâmicas existentes e a consequente migração observada. Para esta forte componente locacional, é imprescindível o uso da geoestatística e estudos das variâncias temporais e espaciais como na geoquímica exploratória. Desta forma, o uso de técnicas exploratórias há muito aplicado na prospecção mineral, com o enfoque ambiental, permite mapear, diagnosticar o problema e auxiliar no prognóstico de sua solução. Diversos países, primeiramente os de dimensões continentais, como Rússia, China, Estados Unidos e Canadá, fizeram uso das técnicas exploratórias, principalmente as amostragens de baixa densidade, para mapear seus territórios.

Posteriormente, países com mais recursos, fizeram o mesmo em seus territórios, como Holanda, Suécia, Finlândia e Portugal. Atualmente, a União Europeia definiu diretrizes únicas para que seus países membros efetuem os trabalhos de coleta, análise e interpretação de resultados seguindo um mesmo protocolo que permitirá a reunião das informações em um único mapa da Europa.

Estes trabalhos enfocam, principalmente, os processos geoquímicos capazes de apontar alvos com potencial mineral e de influenciar a saúde das pessoas, animais e do meio ambiente como um todo, tornando fundamental sua relação com a Geologia Médica.

Os elementos, ao serem liberados das rochas pelo intemperismo, são incorporados em minerais neoformados, adsorvidos em minerais argilosos, incorporados em óxido-hidróxidos de ferro e manganês, precipitados como carbonatos ou postos em solução na água. Quando solubilizados, ou passam ao solo e são levados às águas de subsuperfície, ou são transportados pela drenagem. O homem e os animais são contaminados via alimentos (as plantas assimilam os elementos/substâncias disponíveis no solo), água, ar e contato dérmico.

Exemplos de contaminação humana gerada por fatores ambientais podem ser encontrados em vários países do mundo: China (selênio), Bangladesh, Chile e Argentina (arsênio), Estados Unidos da América (iodo), dentre outros. No Brasil, há estudos em: Santo Amaro da Purificação (BA) – chumbo e cádmio; Vale do Ribeira (SP/PR) – chumbo; São Francisco (MG) – flúor; Quadrilátero Ferrífero (MG) – arsênio. Pesquisas em Geoquímica Ambiental e Geologia Médica identificaram as seguintes anomalias: alumínio e nitrato em Parintins (AM); Relatório Avaliação da Qualidade das Águas Subterrâneas da Cidade de Parintins; chumbo, zinco, cobre, alumínio, boro, manganês e potássio no nordeste do Pará; alumínio, arsênio, boro, cádmio, chumbo, manganês e zinco no estado do Ceará; urânio, em Lagoa Real (BA); mercúrio, em Descoberto (MG).

A parte geológica nas pesquisas em Geologia Médica, em geral, objetiva, por meio da geoquímica, avaliar a dispersão dos elementos químicos no meio ambiente utilizando-se de coleta e análise química de amostras de sedimentos de corrente, solos, ar e águas (superficial, subterrânea e de consumo humano). Utiliza-se, também, de diversas disciplinas das Geociências, como: Litologia, Estrutural, Estratigrafia, Geofísica, Isótopos, Paleontologia etc.

A parte médica dedica-se a investigar possíveis danos à saúde humana, por meio de estudo epidemiológico, com coleta de amostras biológicas (sangue, tecido, cabelo, unha e urina) em indivíduos da população considerada exposta na região identificada pela Geologia, como também em indivíduos da população não exposta, residentes fora da área em estudo que será utilizada como referência.

A Geologia Médica é uma das mais nobres aplicações das Geociências, ao diagnosticar e identificar a origem de doenças e, principalmente, atuar na prevenção destas, objetivando o bem-estar da sociedade.