Serviço Geológico do Brasil esclarece dúvidas sobre potencial do país para terras raras e minerais estratégicos

06/08/2025 às 19h13
 | Atualizado em: 06/08/2025 às 19h15
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Brasil detém a segunda maior reserva/recurso de terras raras do mundo, com cerca de 21 milhões de toneladas estimadas
 

Imagem: Reprodução

Brasília (DF) – O Serviço Geológico do Brasil (SGB) é o órgão do governo federal responsável pelo mapeamento geológico, produção e disseminação do conhecimento geocientífico, que inclui a avaliação do potencial mineral do território nacional. No contexto dos Elementos Terras Raras (ETR) e demais minerais estratégicos, o SGB atua na identificação de áreas com potencial mineral, com a aquisição e processamento de dados geológicos, geofísicos e geoquímicos, úteis para subsidiar a avaliação de viabilidade técnica e econômica de recursos minerais.

“O trabalho que realizamos subsidia políticas públicas, orienta investimentos privados e fortalece a presença do Brasil em cadeias produtivas globais essenciais para a transição energética, segurança alimentar e o desenvolvimento tecnológico”, destaca o diretor-presidente do SGB, Inácio Melo.

Com recursos minerais expressivos, projetos em expansão e pesquisas coordenadas pelo SGB, o país busca fortalecer sua posição na cadeia global desses minerais que estão no centro das discussões geopolíticas e industriais globais devido à sua aplicação na indústria de alta tecnologia. 

O Brasil é o maior detentor global de reservas de nióbio (94%) – com 16 milhões de toneladas. No ranking global, é o segundo maior em reservas de grafita, com 74 milhões de toneladas (26%), e de terras raras, com 21 milhões de toneladas (23%). No caso do níquel, o Brasil possui a terceira maior reserva global, com 16 milhões de toneladas (12%) das reservas mundiais. Os dados são apresentados na publicação “Uma Visão Geral do Potencial de Minerais Críticos e Estratégicos do Brasil”, do SGB.

Potencial do país no cenário global

O Brasil é o detentor da segunda maior reserva mineral de ETR do mundo, com cerca de 21 milhões de toneladas, o que representa cerca de 23% das reservas/recursos globais, segundo dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS). O diretor Inácio Melo afirma que o protagonismo do Brasil na produção de ETR é inevitável: “O Brasil se tornará o maior produtor global de ETRs”. 

Para Melo, os desafios do Brasil para as próximas décadas são ampliar o conhecimento geológico e transformar o enorme potencial geológico dos recursos minerais estratégicos em reservas minerais explotáveis e bem conhecidas. “Precisamos descobrir novas ocorrências e superar as limitações tecnológicas e logísticas”, afirmou. Apesar do potencial mineral, o país produziu, em 2024, apenas 20 toneladas de terras raras, menos de 1% da produção mundial, que foi de 390 mil toneladas.

Atualmente, a China detém uma posição dominante não apenas nos volumes de suas reservas e produção de elementos terras raras, mas, sobretudo, na cadeia tecnológica de separação e refino para obtenção de óxidos de alta pureza (em inglês, REO). “Parcerias entre o SGB, outras ICTs e o setor privado serão o caminho seguro para o desenvolvimento de novas tecnologias que se tornarão a chave para o Brasil transformar recursos estimados em depósitos minerais medidos e viáveis economicamente”, destaca o diretor-presidente.

O termo técnico reserva mineral refere-se à porção economicamente explotável de um recurso mineral medido ou indicado, demonstrada por estudos técnicos (pré-viabilidade ou viabilidade). No caso da maior parte dos ETR do Brasil, o mais adequado é aplicar a terminologia recurso mineral, que é uma concentração ou ocorrência com interesse econômico na crosta terrestre, cuja quantidade, qualidade, continuidade e distribuição são conhecidas ou estimadas com base em evidências geológicas, mas que ainda não é viável economicamente ou apresenta estudos em andamento.

Onde estão os principais recursos de ETR do Brasil

A maior parte dos recursos medidos de Elementos Terras Raras (ETRs) no Brasil está concentrada, principalmente, nos estados de Minas Gerais, Goiás, Amazonas, Bahia, além de Sergipe. Esses estados abrigam os principais tipos de depósitos com potencial econômico de ETRs, conforme levantamentos do SGB, da Agência Nacional de Mineração (ANM) e de estudos técnicos consolidados.

Elementos Terras raras

As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos com propriedades similares encontradas em alguns minerais. São definidos como terras raras os 15 lantanídeos, além do escândio (Sc) e do ítrio (Y). Os principais elementos são os utilizados para fabricação dos ímãs magnéticos, que são o neodímio (Nd), praseodímio (Pr), térbio (Tb) e o disprósio (Dy).

Os elementos terras raras são encontrados como produtos secundários em depósitos de outros bens minerais, principalmente em depósitos de nióbio (Nb) e fosfato (PO4). Dos mais de 200 minerais que contêm ETR, apenas alguns têm potencial para formar depósitos econômicos desses elementos e são explorados atualmente: bastnaesita, monazita, xenotímio e loparita.

Apesar de não serem escassos na natureza, os elementos terras raras (ETR) são considerados críticos devido à complexidade dos processos envolvidos em sua extração e beneficiamento. 

Aplicações

Os elementos terras raras são usados para melhorar a eficiência de diversos produtos de alta tecnologia e de energia limpa, com destaque para a aplicação em turbinas eólicas e motores elétricos, além da aplicação em equipamentos aeroespaciais, como satélites, foguetes e mísseis. Os elementos têm altas propriedades magnéticas, elétricas, catalíticas e luminescentes.

Pesquisas do Serviço Geológico do Brasil sobre ETR

O Serviço Geológico do Brasil (SGB) desenvolve estudos para identificar áreas com potencial e impulsionar o desenvolvimento da cadeia de valor de terras raras. A principal iniciativa é o Projeto de Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil, inserido na linha de atuação “Minerais Estratégicos para Transição Energética”, dentro da Ação do Programa de Aceleração do Crescimento-PAC do governo federal.

Atualmente, o projeto desenvolve atividades nos estados de Goiás e Tocantins (Província Estanífera de Goiás), Minas Gerais (Província Alto Paranaíba), Bahia (Província Jequié e região de Prado) e Paraná, São Paulo e Santa Catarina (Vale do Ribeira).  Além desse projeto, há outras pesquisas do SGB relacionadas a terras raras em áreas potenciais dos estados Amazonas, Roraima, Rondônia, Pará e Piauí. A Elevação do Rio Grande também tem sido estudada. Em todo o país, o SGB realiza pesquisas sobre o potencial mineral e identifica áreas com indícios favoráveis à presença de elementos terras raras e outros minerais estratégicos.

 

Principais depósitos de terras raras

Minas Gerais

Em Araxá (MG), está a única reserva oficialmente reconhecida de terras raras do Brasil. Os minerais com terras raras nas rochas alcalinas são: apatita e calcita. Na região de Poços de Caldas (MG), há diversas empresas de mineração pesquisando para terras raras e já identificaram recursos de 950 milhões de toneladas com teor de 0,25% de TREO. As pesquisas do SGB também indicam ocorrências de terras raras no município de Tapira (MG), conhecido pelas mineralizações de fosfato, nióbio e titânio.

Goiás

O estado de Goiás é destaque nacional por ter uma mina ativa de elementos terras raras na cidade de Minaçu (GO). Os recursos estimados são de 910 milhões de toneladas. É a primeira mina fora da Ásia a operar um depósito de argila iônica – um tipo de mineralização considerada a principal fonte de terras raras pesadas do mundo e que possui o processo de extração de ETR com maior rentabilidade. Até então, apenas a China produzia terras raras em depósitos desse tipo. A mina de Serra Verde possui recursos medidos de cerca de 22 milhões de toneladas, conforme o relatório técnico da empresa de 2015.

O termo produção industrial de terras raras refere-se ao conjunto de operações, como processos físicos, químicos e metalúrgicos, necessários para transformar minérios contendo ETRs em produtos comercializáveis em escala industrial, em especial os óxidos de terras raras – produtos de alto valor agregado. A Mineração Serra Verde, em Minaçu (GO), comercializa como produto final um concentrado misto de óxidos de terras raras (REO – Rare Earth Oxides), com destaque para os elementos magnéticos críticos.

Em Nova Roma (GO), há um projeto com recursos de terras raras estimados em 168,1 milhões de toneladas. Além disso, há ocorrências nas regiões de Catalão (GO) e em outros corpos graníticos da Província Estanífera de Goiás (GO).

Amazonas

No Amazonas, há ocorrências identificadas no depósito de Seis Lagos, localizado a 64 km a nordeste do município de São Gabriel da Cachoeira. Esse é um depósito de nióbio com altas concentrações de terras raras. O recurso estimado é de 43,5 milhões de toneladas de ETR. É importante reforçar que a região é uma reserva legal índigena, portanto, a exploração é impedida por restrições legais.

O depósito de Pitinga, no município de Presidente Figueiredo (AM), é também conhecido como distrito mineiro de vários bens minerais, dos  quais a cassiterita é o bem mineral principal. Os elementos terras raras são encontrados nos minerais xenotima, gagarinita, niobidatos e fluocerita. Desses, a xenotima é o principal mineral com terras raras. Esse depósito é considerado um dos poucos com potencial expressivo de ETRs pesados, mas ainda sem exploração dedicada.

Bahia

Na Bahia, o Complexo de Jequié tem depósito de bauxita conhecido e recentemente tem se destacado como uma província mineral com mineralizações de alto teor de terras raras (11,2% de TREO) associados a outros bens minerais como nióbio, urânio, tântalo, escândio, bauxita e gálio no Projeto Pelé. O depósito pesquisado pela Brazilian Rare Earth tem mineralização associada a rocha com teor de até 40,5% de TREO no Projeto Velhinhas e em rocha alterada, denominada areais de monazita que chegam a teor de 7, 9% no projeto Pelé.

Além deste, na região de Prado há depósito de monazita em minerais pesados da planície costeira. No início do século passado, a região de Cumuruxatiba foi produtora de monazita.

Sergipe

Em Sergipe, na porção norte do estado, há depósito de monazita em minerais pesados em antigos cordões litorâneos e dunas do delta do Rio São Francisco. Há recursos JORC totais de 196 milhões de toneladas com 0,4% de concentrado de monazita. Este é um novo projeto na região.

 

Entrevista com o diretor-presidente do SGB, Inácio Melo, sobre terras raras
 

Foto: Igo Estrela/SGB

 

1. Qual é o papel do SGB na agenda de minerais estratégicos, como as terras raras?

R: O SGB atua na identificação de áreas com potencial mineral, realiza mapeamentos, aquisição e processamento de dados geológicos, geoquímicos e geofísicos. Esses trabalhos subsidiam políticas públicas, orientam investimentos privados e fortalecem a presença do Brasil em cadeias produtivas globais ligadas à transição energética e ao desenvolvimento tecnológico.

2. Por que as terras raras são tão estratégicas para o Brasil e para o mundo?

R: As terras raras são essenciais para tecnologias de baixo carbono, como turbinas eólicas, veículos elétricos, baterias e equipamentos eletrônicos. Esses elementos também têm aplicações relevantes na indústria bélica e aeroespacial, sendo utilizados em caças, satélites e mísseis.

Embora não sejam escassas na natureza, são difíceis de extrair e processar, o que as torna críticas do ponto de vista tecnológico, econômico e ambiental. Além disso, a maior parte das reservas conhecidas estão concentradas na China, que domina também as tecnologias de beneficiamento e refino.

Nesse contexto, o Brasil, que possui a segunda maior reserva global de terras raras, tem uma posição estratégica e tem atraído atenção do mundo para diversificar a oferta, atrair investimentos, fortalecer cadeias produtivas e ampliar sua relevância geopolítica em temas ligados à transição energética e à inovação tecnológica. Esse é um ponto forte que pode ser evidenciado nas discussões internacionais.

3. O Brasil tem potencial para se tornar um líder global na produção de terras raras?

R: Sim. O Brasil possui a segunda maior reserva do mundo, concentrando 23% das reservas globais. Além disso, o país conta com projetos em expansão e pesquisas coordenadas pelo SGB que podem ampliar esse potencial e consolidar o país como um polo global estratégico na produção desses elementos.

Nossos pesquisadores realizam estudos em todo o território nacional para identificar novas áreas com potencial para terras raras. Estes estudos estimulam a atração de investimentos em pesquisa mineral, o desenvolvimento de projetos sustentáveis e o fortalecimento das cadeias produtivas ligadas à transição energética e à inovação tecnológica.

Também estamos avançando em parcerias com outros institutos de ciência e tecnologia e o setor privado para encontrar soluções que ajudem a superar as limitações tecnológicas e logísticas para que o Brasil possa transformar recursos estimados em depósitos minerais medidos e viáveis economicamente.

4. Quais são os principais projetos do SGB voltados para terras raras?

R: O principal é o Projeto de Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil, parte da linha “Minerais Estratégicos para Transição Energética”. Atuamos em diversas províncias geológicas nos estados de Goiás, Tocantins, Minas Gerais, Bahia, Paraná, São Paulo e Santa Catarina, além de pesquisas por meio de outros projetos em estados como Amazonas, Roraima, Rondônia, Pará e Piauí.

5. Quais os desafios para que essas ocorrências e recursos se tornem produção efetiva?

R: Os principais desafios são tecnológicos, logísticos, ambientais e de viabilidade econômica. A maturação dos projetos exige tempo e investimento, além de soluções para garantir sustentabilidade ambiental. Em alguns casos, como em Seis Lagos e Repartimento, há restrições legais por serem áreas de proteção ambiental ou territórios indígenas. Os elementos terras raras, apesar de não serem raros no solo, estão presentes em concentrações muito baixas, o que exige tecnologias avançadas para separação, concentração e beneficiamento.

O país está avançando com políticas públicas para fortalecer a cadeia produtiva, visando desenvolver infraestrutura, atrair investimentos e capacitar mão de obra. Tudo isso é parte do esforço do governo federal para consolidar o país como um destino atrativo para o desenvolvimento de pesquisa mineral.

Há várias ações governamentais em curso, por exemplo, o edital do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) com a chamada pública para seleção de planos de negócio para investimentos na transformação de minerais estratégicos para transição energética e descarbonização. Há também a chamada pública do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para expansão e consolidação do  Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) – minerais estratégicos estão entre os temas. Outro exemplo é a criação do Primeiro laboratório-fábrica de ligas e ímãs de terras-raras do hemisfério sul (LabFabITR), iniciativa da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge).

6. Como o SGB apoia políticas públicas e investimentos privados nesse setor?

R: Oferecendo dados geocientíficos qualificados, atualizados e de acesso público. Nossos estudos orientam desde políticas de segurança energética até decisões de investidores que buscam oportunidades em minerais estratégicos. O conhecimento que geramos reduz incertezas e acelera o desenvolvimento de projetos.

7. O país tem potencial para outros minerais estratégicos?

R: O Brasil tem grande potencial geológico e abriga reservas/recursos minerais significativos de diversos minerais estratégicos, além das terras raras. Podemos destacar o lítio, fundamental para baterias de veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energia; o nióbio, usado em superligas de alta resistência; o grafita e o grafeno, com aplicações em diversas tecnologias avançadas; e o cobre e o níquel, essenciais para a transição energética.

O SGB realiza pesquisas em diferentes regiões do país para identificar novas áreas promissoras e apoiar o aproveitamento sustentável desses recursos. Nos próximos dias, entregaremos o Plano Decenal de Pesquisa de Recursos Minerais (PlanGeo 2026–2035) — um documento estratégico que direciona a pesquisa mineral para a próxima década, alinhada com o planejamento do mapeamento geológico básico, definindo as áreas que serão estudadas nos próximos anos, em conformidade com as demandas nacionais e os desafios do cenário global.

Larissa Souza
Núcleo de Comunicação

Serviço Geológico do Brasil
Ministério de Minas e Energia
Governo Federal
imprensa@sgb.gov.br 

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