Descoberta nova espécie de fóssil na bacia de Itaboraí, no Rio de Janeiro
Descoberta nova espécie de fóssil na bacia de Itaboraí, no Rio de Janeiro
Xenocynus crypticus faz parte de um acervo coletado nos anos 60 e armazenado no Museu de Ciências da Terra
Localizada no Rio de Janeiro, a Bacia de Itaboraí foi explorada de 1930 a 1980, fornecendo a matéria-prima para o cimento usado na construção de marcos icônicos, como o estádio do Maracanã e a Ponte Rio-Niterói. Os estudos paleontológicos na bacia iniciaram-se na década de 1940, revelando uma fauna que data do final do Paleoceno e início do Eoceno, aproximadamente entre 55 e 50 milhões de anos atrás.
Recentemente, uma colaboração entre instituições brasileiras e portuguesas de pesquisa conduziu a um avanço significativo, com a descrição de uma nova espécie de marsupial, denominada Xenocynus crypticus. Esta descoberta, publicada no "Journal of South American Earth Sciences", faz parte de uma série de estudos com exemplares coletados nos anos 60 e armazenados no Museu de Ciências da Terra (MCTer), vinculado ao Serviço Geológico do Brasil (SGB).
Xenocynus crypticus apresenta características únicas, como um gradiente de tamanho dentário que aumenta de frente para trás e uma mandíbula robusta, sugerindo uma dieta primariamente carnívora. Utilizando técnicas estatísticas avançadas, os pesquisadores examinaram detalhadamente as características físicas e adaptações deste e de outros grandes marsupiais da bacia, indicando a possibilidade de uma coexistência pacífica entre diferentes espécies, por meio da exploração de variados nichos alimentares.
“Esse estudo enriquece nosso conhecimento sobre a diversidade de metatérios do Eoceno Inferior no Brasil, além de destacar a importância de estudos paleontológicos para a compreensão das ecologias de comunidades animais pré-históricas e suas interações”, ressaltou a coordenadora-geral do MCTer, Célia Corsino.
A importância dessa descoberta reside também no seu contexto histórico, mostrando como após a extinção em massa do Cretáceo, que dizimou os dinossauros, a vida se recuperou e evoluiu, dando origem às faunas contemporâneas da América do Sul. Durante o Eoceno, os marsupiais eram particularmente diversos, contrastando com a atualidade, em que apenas algumas espécies, como gambás e cuícas, permanecem.
As investigações continuadas poderão revelar mais sobre a dinâmica desses antigos ecossistemas e como diversas espécies coexistiam numa mesma região. A descoberta oferece uma janela para a vida antiga na Bacia de Itaboraí, abrangendo desde pequenos indivíduos, de poucos gramas, até marsupiais que ultrapassavam 10 kg, e reforça a riqueza e complexidade dos ecossistemas do passado.
O projeto contou com parceria entre o Laboratório de Paleontologia da Universidade Federal de Pernambuco, o Laboratório de Paleontologia e Paleoecologia da Sociedade de História Natural (SHN-Portugal), o Departamento de Ecologia da Universidade Federal de Goiás e o Laboratório de Paleontologia Estratigráfica da Universidade Federal de Uberlândia, juntamente com o MCTer.
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