Relevo Oceânico
Relevo Oceânico
Embora o ciclo das grandes navegações tenha ocorrido nos séculos XV e XVI, foi só no século XIX, em 1872, que se lançou ao mar um navio com a missão de estudar cientificamente os oceanos. Este navio, o H. M. S. Challenger, fez uma viagem de circunavegação de quatro anos. De seu trabalho resultaram nada menos que 50 volumosos livros com resultados das observações, coletas e análises executadas. Foi essa expedição que obteve as primeiras informações, por exemplo, sobre a Cordilheira Mesoatlântica.
O relevo oceânico, ou seja, a morfologia da crosta terrestre no fundo dos oceanos, compreende cinco formas principais, conforme veremos nos tópicos a seguir.
Plataforma Continental
É a porção do fundo oceânico que margeia os continentes, indo da linha da costa até a profundidade de aproximadamente 200 m. É plana, com uma inclinação muito suave (1 m de declive para cada 1.000 m de extensão) e largura variável (70 a 80 km em média, podendo chegar a várias centenas).
Essa largura é maior em oceanos como o Atlântico, com margens continentais passivas. No Brasil, é bem mais larga na região Sudeste do que no Nordeste. Em oceanos como o Pacífico, com margens continentais tectonicamente ativas, a plataforma tem largura reduzida.
É recoberta por sedimentos de origem continental trazidos principalmente pelos rios, mas também por geleiras e ventos. Abriga importantes concentrações de recursos minerais, fornecendo também grande parte da produção atual de petróleo.
Normalmente é dividida em plataforma continental proximal (porção mais próxima do continente), plataforma continental média e plataforma continental distal, cada uma delas com suas características biológicas, geomorfológicas e sedimentológicas.
As águas oceânicas acima da plataforma e fora da influência das marés constituem, do ponto de vista biológico, a zona nerítica, a mais importante para a pesca. Compreende formas de vida sésseis, ou seja, que vivem fixas ao fundo do mar (como os corais) e nectônicas (como os peixes).
É a unidade mais importante do relevo submarino. Além dos recursos minerais que contém, nela o sol atinge praticamente todo o fundo marinho, permitindo a fotossíntese e o crescimento do plâncton. Por isso, ali estão as maiores regiões pesqueiras.
Talude Continental
Também chamado de vertente continental, é a região de inclinação acentuada (1 m de declive para cada 40 m de extensão) que vem após a plataforma continental e se estende até a planície abissal. O limite externo da plataforma continental, onde ocorre a brusca mudança de declividade, recebe o nome de quebra da plataforma.
O relevo do talude continental não é homogêneo, havendo quebras de declividade, cânions e vales. É recoberto por argilas muito finas e restos de seres marinhos. Como tem inclinação acentuada, são frequentes as correntes de turbidez e os depósitos sedimentares do tipo turbidito.
Na base do talude, sequências sedimentares constroem uma unidade de relevo irregular conhecida como elevação ou sopé continental. Essa elevação estende-se entre 3.000 e 5.000 m de profundidade e tem uma declividade intermediária entre a da plataforma continental e a do talude. É composta predominantemente por sedimentos de origem continental.
Aqui ocorrem vulcões isolados ou dispostos em linha, como o Cinturão de Fogo do Pacífico. Do ponto de vista biológico, essa formação corresponde à zona batial.
A plataforma continental, o talude continental e o sopé continental constituem a chamada margem continental, pois pertencem ainda à crosta continental, embora submersos.
Planície Abissal
É a região extensa e profunda, mais ou menos plana e horizontal, que, nas margens continentais do tipo Atlântico, começa na base do sopé continental e estende-se até as cordilheiras oceânicas. Está geralmente a 4.000 m de profundidade.
Constituem os compartimentos com as maiores extensões territoriais dos oceanos e são localmente interrompidos pelos montes ou montanhas submarinas, elevações isoladas que podem atingir 1.000 m de altura e cujas porções emersas constituem as ilhas oceânicas.
Em termos biológicos, compreende a zona pelágica, onde vivem normalmente seres vivos que não dependem dos fundos marinhos, sendo habitada principalmente por seres planctônicos (que são levados pelas águas) e nectônicos (animais que nadam).
O domínio pelágico é muitas vezes dividido em cinco zonas, conforme a profundidade:
Zona Epipelágica ou Superficial
Vai até 200 m de profundidade e inclui a porção do mar onde pelo menos 1% da luz solar consegue penetrar, permitindo a fotossíntese. Essa penetração da luz do sol depende não apenas da profundidade, mas também da turbidez da água, podendo ser de apenas alguns centímetros.
Zona Mesopelágica
De 200 m até cerca de 1.000 m de profundidade. Embora ainda penetre alguma luz solar, ela não é suficiente para promover a fotossíntese. Sua temperatura varia entre 4ºC (na base) e 20ºC (nas partes mais rasas). Os animais mesopelágicos caracterizam-se por fazer grandes deslocamentos verticais diários, aproximando-se da superfície da água à noite, mas mergulhando para águas profundas durante o dia.
Zona Batipelágica
De 1.000 até cerca de 4.000 m de profundidade, dependendo da profundidade da margem continental. Tem uma temperatura média de 4ºC. Não recebe a luz solar e, por isso, nela não há produção primária de alimentos. Também pela falta de luz, nela vivem alguns animais que não possuem olhos. Os animais batipelágicos nunca se aproximam da superfície do mar.
Zona Abissopelágica
Sobre as planícies abissais. É uma região onde a pressão da água é enorme e onde a falta de nutrientes e a baixa temperatura só permitem poucas formas de vida. Representa 42% dos fundos oceânicos. Os seres abissais são dotados de adaptações especiais, pela total falta de luz e elevada pressão, sendo exemplos os peixes cegos e polvos gigantes.
Zona Hadopelágica ou Zona Hadal
Inclui as águas associadas ao fundo das fossas oceânicas com mais de 6.000 m de profundidade, como a Fossa das Marianas, que atinge 11.000 m de profundidade e pressão de 1.100 atmosferas.
Fossas Submarinas
São as zonas mais profundas dos oceanos. Têm forma alongada, estreita e com laterais de alta declividade. Formam-se onde se encontram duas placas tectônicas (zona de subducção). A Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico, descoberta em 1960, é a mais profunda que se conhece, com 10.920 metros.
Cordilheiras Oceânicas
Ao contrário das fossas oceânicas, as cordilheiras são zonas alongadas, contínuas, fraturadas e escarpadas que se elevam a partir da planície abissal. São formadas predominantemente por processos vulcânicos e tectônicos relacionados à movimentação das placas tectônicas, com superposição de depósitos sedimentares de oceanos profundos.
Correspondem às zonas de separação de placas tectôncias (zonas de acresção), como a Dorsal Mesoatlântica, que existem ao longo de todo o Oceano Atlântico. Estão presentes em todos os oceanos e contêm, nas suas porções centrais, as zonas de maior atividade tectônica dos fundos oceânicos.
Picos mais elevados dessas cordilheiras podem alcançar a superfície do mar, formando ilhas oceânicas, como o arquipélago de Fernando de Noronha, por exemplo. Totalizam 84.000 km e têm uma largura média de 1.000 km.
Autor
Pércio de Moraes Branco
Fontes
TESSLER, M. G & MAHIQUES, M.M. de. Processos oceânicos e a fisiografia dos fundos marinhos. IN: TEIXEIRA, W. et al. Decifrando a Terra. São Paulo, Oficina de Textos, 2000. 568p. Il. p. 261-284. il.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ. http://www2.unifap.br/alexandresantiago/files/2012/04/Aula-3-RELEVO-OCEÂNICO.pdf. Acessado em 17 de junho de 2013.
ZONA. Pelágica. Wikipédia, http://pt.wikipedia.org/wiki/Zona_pel%C3%A1gica. Acessado em 20 de junho de 2013.