Identificação das Pedras Preciosas Lapidadas
Identificação das Pedras Preciosas Lapidadas
Pércio de Moraes Branco
Quem compra uma joia com pedra preciosa obviamente quer ter certeza de que a pedra que está levando é de fato o que o vendedor diz ser. Mas como saber se aquela linda gema azul é mesmo uma água-marinha e não um topázio azul, também valioso, porém mais barato? Como saber se a pedra incolor, tão brilhante, é um diamante, não uma zircônia cúbica, uma safira incolor, um zircão ou outra gema ainda mais barata? E, mesmo tendo certeza de que a esmeralda que está comprando é de fato esmeralda, como saber se é natural ou sintética? O simples exame visual infelizmente não permite responder a nenhuma dessas perguntas. Apenas olhando, salvo poucas exceções, não se pode dizer com certeza que gema está sendo observada. O que fazer então?
Medidas de Precaução
O consumidor que preza seu rico dinheirinho deve antes de tudo fazer a compra numa empresa que julgue digna de confiança. Ele provavelmente pagará mais caro do que comprando a mesma gema numa joalheria pequena e desconhecida, mas empresas que zelam por sua imagem não querem correr o risco de uma acusação por fraude. Uma segunda medida é pedir sempre, seja onde for, nota fiscal discriminando bem o produto.
A terceira é pedir um certificado de garantia. Empresas pequenas talvez não forneçam esse documento, mas as maiores o fazem. A Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT estabeleceu um modelo para esse documento (o qual pode ser visto ao final desta página). Os vendedores não precisam fornecer certificado exatamente igual, mas as informações mínimas que ele deve conter são as especificadas pela ABNT. Por fim, é bom lembrar que, sempre e em qualquer circunstância, quem compra uma joia ou gema está protegido pelo Código de Defesa do Consumidor.
Exame Técnico
Mesmo tendo a nota fiscal e o certificado de garantia, o comprador de joias pode querer ter a certeza de que lhe venderam a pedra preciosa que pediu. O que fazer então?
Nesse caso, ele deve levar a peça adquirida a um laboratório gemológico. Ali, um gemólogo terá condições de examinar a gema e identificá-la corretamente. O comprador terá uma despesa adicional, mas bem menor do que o valor pago pela joia. O que o gemólogo faz para identificar a gema? Com o uso de vários equipamentos, ele medirá as propriedades físicas da pedra através de exames não destrutivos, isso é, que não danificam o material examinado.
Com um polariscópio, ele verá se a gema é isótropa ou anisótropa. Gema isótropa é aquela que a luz atravessa com mesma velocidade, seja em que direção for - como as granadas, o diamante, a fluorita e o espinélio. A maioria das pedras preciosas são anisótropas, ou seja, a luz as atravessa com uma velocidade que varia conforme a direção.
Polariscópio
efratômetro
Refratômetro
Lâmpada de luz ultravioleta
Com um refratômetro ele medirá a principal propriedade da gema, que é o índice de refração. Cada gema tem um valor para esse índice (se for isótropa) ou um intervalo de variação (se for anisótropa). As gemas anisótropas podem mostrar uma cor quando olhada numa direção e outra cor ou outro tom da mesma cor quando olhada em direção diferente daquela (fenômeno chamado pleocroísmo). Mas essas diferenças são tão sutis que não se consegue perceber a olho nu.
O dicroscópio, um pequeno instrumento de uns 5 cm de comprimento, mostra essa variação, se houver, exibindo as duas cores lado a lado. A existência ou não de fluorescência e fosforescência é determinada através de lâmpada de luz ultravioleta. Essas duas propriedades são, como outras, insuficientes para identificar uma gema, mas auxiliam, complementando o exame.
Com líquidos pesados (bromofórmio, iodeto de metileno, entre outros), o gemólogo pode determinar a densidade da gema, propriedade importante na sua identificação e que ajuda a distinguir as diferentes espécies de granada por exemplo.
Os refratômetros não costumam medir índices de refração muito altos, como o do diamante. Para identificar então essa importante gema há aparelhos específicos, chamados condutivímetros.
Eles medem a condutividade elétrica ou térmica da gema e informam num visor se é diamante, zircônia cúbica ou outra imitação.
Para distinguir especificamente uma esmeralda de outras gemas verdes há um dispositivo chamado filtro de Chelsea. Vista através dele, a esmeralda fica vermelha, enquanto as demais gemas verdes (com duas exceções) continuam verdes.
Para identificação de gemas sintéticas usa-se o microscópio gemológico, no qual o gemólogo procura ver as inclusões (imperfeições) eventualmente existentes e as feições (como bolhas de ar, linhas de crescimento etc). Os filtros de Hanneman (abaixo) são usados para várias gemas. Um identifica gemas de cor vermelha; outro, as de cor azul; outro, as diferentes esmeraldas sintéticas etc.
Como se vê, há um bom número de recursos ao alcance do gemólogo para identificar uma gema lapidada. Mas, lamentavelmente, existem poucos laboratórios gemológicos no país. A principal razão disso é que os equipamentos aqui descritos não são fabricados no Brasil e, como a procura por eles é pequena, sua importação não se mostra um negócio interessante.
Fonte
BRANCO, Pércio de Moraes. Dicionário de Mineralogia e Gemologia. São Paulo: Oficina de Textos, 2008. 608 p. il.
Fotos
Pércio de Moraes Branco.