As Estranhas Propriedades de Alguns Minerais

A identificação macroscópica dos minerais é feita principalmente pela observação de algumas propriedades físicas, como cor, brilho, densidade, clivagem, dureza etc.

Há, porém, algumas propriedades que só algumas poucas espécies apresentam e que são importantes para sua identificação. E também há propriedades comuns que em certas espécies apresentam valores anormais, contribuindo também para seu reconhecimento. Veremos a seguir alguns desses casos especiais.

Magnetismo

Dos minerais comuns, apenas dois, a magnetita (óxido de ferro) e a pirrotita (sulfeto de ferro e níquel), são fortemente magnéticos. Ambos são facilmente atraídos por um ímã comum, e um fragmento de magnetita maciça de uns 8 cm pode atrair pequenas peças metálica, como clips e alfinetes. A foto ao lado mostra cristais de magnetita atraídos por um pequeno ímã.

Fluorescência

Fluorescência é a propriedade que têm certas substâncias, entre elas vários minerais, de se tornarem visíveis sob a ação de uma radiação invisível. Se a luz ultravioleta, que é invisível para o ser humano, incide sobre um mineral em um ambiente escuro, esse mineral deveria permanecer oculto, pois quando enxergamos um objeto o que vemos nada mais é do que a luz que incidiu sobre ele e é refletida ou então a luz que o atravessou. Mas se esse mineral for fluorescente, como a calcita, por exemplo, ele ficará iluminado e geralmente com uma cor diferente daquela que tem em luz normal.

As fotos abaixo, feitas por Denise Rippel e Paula Cadermartori com minerais do acervo do Museu de Geologia do Serviço Geológico do Brasil - CPRM, mostram um cristal de calcita branca em luz normal e, à direita, sob luz ultravioleta. As duas fotos seguintes mostram willemita (silicato de zinco) também em luz normal e em luz ultravioleta.

Cristal de calcita branca
Cristal de calcita
sob luz violeta
Silicato de zinco
Silicato de zinco
sob luz violeta

 

Outros minerais que podem mostrar forte fluorescência são diamante, zircão, fluorita (daí vem o nome fluorescência), opala, safira amarela e vários minerais de urânio, como autunita, uranfita, uranocircita, uranofânio, uranopilita, uranospinita etc.

É importante notar que nem todos os espécimes de um mineral fluorescente mostram o fenômeno. Há calcitas que não fluorescem, assim como em um lote de diamantes pode haver alguns que mostram fluorescência enquanto outros não.

A fluorescência pode ser útil não só na identificação de um mineral, mas também na sua busca. Em uma área onde se acredita que possa haver scheelita (volframato de cálcio), por exemplo, percorrê-la à noite com uma lâmpada de luz ultravioleta é uma maneira de procurar o mineral.

Birrefringência

Calcita

Quando a luz atravessa um mineral ela sofre um desvio em sua trajetória e uma redução em sua velocidade, uma vez que o mineral é mais denso que o ar. Isso é normal e acontece com qualquer substância. Em muitos minerais, porém, esse desvio varia conforme a direção em que a luz incide, sendo maior em uma direção que em outra.

A diferença é normalmente pequena demais para ser percebida sem instrumentos apropriados, mas na calcita ela é tão grande que as imagens vistas através de um cristal transparente desse mineral aparecem duplicadas (foto ao lado). E, quando se gira o cristal, uma das imagens fica fixa enquanto a outra gira ao redor dela.

O zircão mostra efeito semelhante. Não é tão notável quanto na calcita, mas olhando um zircão lapidado pode-se ver que as arestas da gema aparecem duplicadas.

Sabor

Calcantita

O sabor de um mineral raríssimas vezes é lembrado como uma propriedade útil na sua identificação. Mas há algumas espécies em que ele é muito importante. O exemplo mais conhecido é a halita, nome mineralógico do sal que usamos na cozinha (cloreto de sódio). Nas jazidas de sal, a halita pode aparecer na forma de cristais de vários centímetros de comprimento, e não apenas como os minúsculos grãozinhos que vemos na cozinha.

Menos conhecida, mas mais notável, é a calcantita (sulfato hidratado de cobre), mineral que forma belíssimos cristais com uma forte cor azul-escura. Além de uma cor que ajuda muito na sua identificação, a calcantita tem um sabor muito marcante: ela é extremamente amarga e adstringente. Basta tocar o mineral com a ponta da língua para se sentir, por bastante tempo, o sabor desagradável que ele possui.

Sal de cozinha

Tarnish

Monazita

Chama-se de tarnish a alteração superficial que sofre a cor de um mineral pelo contato com uma substância rica em enxofre, principalmente o ar. Há vários minerais que sofrem essa alteração, mas a calcopirita e a bornita (sulfetos de cobre e ferro) são os melhores exemplos.

A calcopirita tem uma cor amarelo-latão, mas adquire por ação do enxofre cores avermelhada, azul, verde, púrpura, todas misturadas. A pirita (sulfeto de ferro) tem cor semelhante, mas não mostra tarnish. A bornita é ainda mais notável nesse aspecto. Ela tem uma cor rosada, semelhante à do cobre, mas, exposta ao ar, em poucas horas adquire superficialmente cor azul e/ou púrpura bem intensa.

Bornita

 

Radioatividade

Uma propriedade que não é detectável sem o uso de aparelhos apropriados é a radioatividade. Ela está presente em vários minerais, como os de urânio (uraninita, uranofânio) e de tório (torianita, torita). A monazita, quando contém tório, é radioativa também.

O aparelho mais usado em geologia para detectar e medir a radioatividade é o cintilômetro. Areias de praia que contêm monazita costumam ser radioativas nos pontos onde esse mineral se concentra.

Transmissão de Luz na Ulexita

Ulexita transparente

A ulexita é um borato básico hidratado de sódio e cálcio que forma cristais aciculares extremamente finos, encontrado em regiões desérticas. É branco, incolor ou cinza.

Esse mineral tem uma propriedade única: seus finos cristais, arranjados paralelamente, funcionam como fibras ópticas. Assim, uma placa natural de ulexita transparente ou translúcida colocada sobre uma figura "puxa" a imagem dessa figura para a superfície superior da placa, como se vê na foto.

Cor da Alexandrita

A alexandrita é uma pedra preciosa rara e valiosa que tem uma curiosa propriedade: em luz natural ela tem cor verde, mas em luz artificial incandescente pode se mostrar vermelho-arroxeada ou amarronzada.

Foto: Editorial Planeta

Tenebrescência

Alguns minerais, como espodumênio, tugtupita e hackmannita, podem também mudar de cor, mas em situação um pouco diferente. Eles têm uma cor em luz natural e ela muda, ainda em luz natural, se o mineral é exposto ao sol, voltando à cor original quando levado de volta para um ambiente fechado. O fenômeno é também chamado de fotocromismo reversível e é usado nas lentes de alguns óculos para sol, que ficam claras em ambiente fechado, escurecendo quando estão ao sol.

Hábito

A imagem que usualmente se tem de rochas e minerais é a de substâncias resistentes a impactos físicos, fraturas, torções etc. Embora isso seja verdade na maioria dos casos, há minerais que são extremamente frágeis.

Em mineralogia, chama-se de hábito a aparência externa do mineral, compreendendo a forma cristalina (ou combinação de formas) e as irregularidades típicas da espécie ou variedade, como estrias, por exemplo. Um mineral pode ter hábito tabular, prismático, colunar estriado, granular etc. Algumas espécies têm hábito acicular muito fino, cristalizando na forma de agulhas extremamente delicadas. Outros são asbestiformes, cristalizando como fios flexíveis.

A foto abaixo à direita mostra finíssimas agulhas de alunogênio, um sulfato hidratado de alumínio. A outra foto mostra o crisotilo (silicato básico de magnésio), mineral que forma fios muito delicados e flexíveis, tão flexíveis que podem ser usados para tecer roupas. Apesar de serem tão finas, essas fibras são resistentes ao fogo, de modo que se pode com elas fazer roupas à prova de fogo.

Alunogênio

 

Crisotilo

Outros minerais de hábito surpreendente são as micas. Só que, em vez de formarem delicados fios ou agulhas, elas formam finas lâminas elásticas, de modo que, com um estilete, podem ser destacadas incontáveis lâminas, por exemplo, de moscovita, a partir de um único cristal.

Dureza

Gipsita

A mesma ideia que a maioria das pessoas tem com relação à resistência física dos minerais e rochas as leva a pensar que minerais são substâncias difíceis de riscar. Nem sempre.

A dureza dos minerais é medida com uma escala que vai de 1,0 (dureza mais baixa) a 10,0 (dureza máxima), a Escala de Mohs. Dureza 10,0 é a do diamante, que risca qualquer substância e só é riscado por outro diamante. Mas dureza 1,0 tem, por exemplo, o talco (sim, o talco, um silicato básico de magnésio, é um mineral), que pode ser riscado até mesmo com a unha. A gipsita, um sulfato hidratado de cálcio, tem dureza maior (2,0), mas também pode ser riscada com a unha. As pedras preciosas é que têm dureza elevada, normalmente acima de 7,0, sem o que seu uso em um anel, por exemplo, seria inviável.

Autor

Pércio de Moraes Branco

Fonte

BRANCO, P. de M. Dicionário de Mineralogia e Gemologia. São Paulo, Oficina de Textos, 2008. 608 p. Il.

Fotos

Pércio de Moraes Branco, salvo indicação em contrário.