Margem Equatorial do Brasil terá mapeamento de alta resolução e novas pesquisas realizadas pelo Serviço Geológico do Brasil

07/05/2024 às 19h45
 | Atualizado em: 10/05/2024
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Foto: Divulgação SGB
Foto: Divulgação SGB


A Margem Equatorial (MEq) é o nome dado à região costeira do Norte do Brasil, compreendida entre os estados do Amapá e Rio Grande do Norte. A área ainda é pouco explorada e, atualmente, tornou-se palco de grande interesse devido às características geológicas semelhantes às da Guiana e do Suriname, onde já foram descobertas reservas de petróleo estimadas em 13 bilhões de barris. Essa região do Estado brasileiro abrange cinco bacias sedimentares marinhas – Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar – que têm reconhecido potencial para produção de petróleo e gás. Além disso, é particularmente importante também pelo seu potencial eólico em terra e mar e pelo potencial para produção de hidrogênio verde.

Para garantir a segurança energética do país durante a transição para uma economia verde, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) realiza a primeira campanha de levantamento e mapeamento na Margem Equatorial do Brasil. A missão, denominada Foz do Amazonas, sairá nesta terça-feira (7) e se destaca pelo início do mapeamento de alta resolução do meio físico da região, que será o grande parceiro para o desenvolvimento econômico do Norte e Nordeste, onde encontram-se as bacias sedimentares da área.

Considerada o “novo pré-sal”, a Margem Equatorial, que está localizada entre os estados do Amapá e Rio Grande do Norte, abrirá uma fronteira no qual o petróleo e o gás serão importantes aliados para a soberania energética do Brasil.

“A transição energética é fundamental para garantir um futuro sustentável para nosso planeta. Com essa nova pesquisa que estamos trabalhando, será possível, além de proporcionar o desenvolvimento do Norte e Nordeste, garantir um ambiente saudável e próspero para todas as gerações. Fontes de energia limpas e renováveis é o caminho que as pesquisas estão percorrendo”, reforçou o diretor-presidente do SGB, Inácio Melo.

Já o diretor de Geologia e Recursos Minerais, Valdir Silveira, destacou que a Margem Equatorial é uma área de extraordinária biodiversidade e complexidade geológica, cujos segredos ainda estão sendo gradualmente desvendados. “Os dados coletados nessa expedição nos permitirão aprofundar nosso conhecimento sobre processos oceânicos, padrões climáticos e recursos minerais, oferecendo bases científicas sólidas para políticas públicas de conservação marinha e uso sustentável dos recursos. Além disso, a pesquisa na margem equatorial brasileira pode auxiliar no desenvolvimento de novas tecnologias para exploração mineral e energética”.

A Margem Equatorial do Brasil é uma região oceânica próxima à linha do Equador, caracterizada por uma rica diversidade de vida marinha e condições ambientais únicas. Essa região é conhecida por sua alta produtividade biológica devido ao calor e à luz solar abundantes, resultando em uma grande variedade de espécies marinhas. Estudar e proteger a margem equatorial é essencial para entender melhor os processos oceânicos e garantir a conservação dos recursos marinhos. Obter dados de forma sistemática do assoalho marinho da margem equatorial tem uma importância geocientífica significativa por várias razões:

Tectônica de placas: A margem equatorial do Brasil está localizada em uma região de interação entre placas tectônicas, onde ocorrem processos geodinâmicos importantes, como a formação de falhas, rifteamento e subsidência. Compreender esses processos é fundamental para entender a evolução geológica da região e os padrões de atividade sísmica.

Recursos minerais: A exploração dos recursos minerais no assoalho marinho, como petróleo, gás natural, minerais metálicos e minerais de terras raras, é uma área de interesse econômico significativo. Estudar a geologia e a geomorfologia da margem equatorial pode ajudar a identificar potenciais depósitos minerais e orientar a exploração sustentável desses recursos.

Geohistória e mudanças climáticas: Os sedimentos depositados no assoalho marinho contêm registros valiosos da história geológica e climática da Terra. Estudar esses sedimentos na margem equatorial do Brasil pode fornecer informações sobre mudanças climáticas passadas, variações no nível do mar e eventos geológicos significativos, contribuindo para modelos climáticos e paleogeográficos mais precisos.

Ecossistemas e biodiversidade: O assoalho marinho abriga uma variedade de ecossistemas, como recifes de coral, montes submarinos e planícies abissais, que sustentam uma rica biodiversidade marinha. Compreender a geologia desses ambientes é essencial para a conservação e gestão sustentável dos ecossistemas marinhos e seus recursos.

Portanto, “o estudo do assoalho marinho da margem equatorial do Brasil é fundamental para avançar nosso conhecimento sobre a geologia, ecologia e dinâmica dos oceanos, além de fornecer insights importantes para aplicações econômicas, ambientais e científicas baseados em ciência aplicada e não em especulações”.


A expedição

Durante os 33 dias de expedição, a bordo do Navio Hidroceanográfico Vital de Oliveira, uma equipe composta por cinco cientistas do SGB e outros 25 participantes, realizará um levantamento batimétrico em área de 378 km², que equivale a aproximadamente 2.025 estádios de futebol ou a ¼ da cidade do Rio de Janeiro. Além disso, o grupo realizará levantamentos sísmicos e sonográficos, para fornecer subsídio científico para a exploração de recursos naturais, bem como para o planejamento e gerenciamento da costa leste dos estados do Amapá, Pará e Maranhão.

Outro ponto de destaque é que para o auxílio à coleta dos dados, será instalado um marégrafo ( instrumento que registra automaticamente o fluxo e o refluxo das marés em um determinado ponto da costa.) perto do Recife Manuel Luís para ajudar a entender melhor a maré naquela área. Ainda será realizado mapeamento de habitats com amostragem e mergulho com o ROV – veículo subaquático operado remotamente.

O uso da alta resolução fornecerá maior precisão das cartas náuticas e no mapeamento da morfologia do relevo submarino. Os dados poderão ser usados pelo governo federal, empresas (como Petrobras) e ONGs, bem como para pesquisas diversas, navegação, monitoramento e outros. Os primeiros resultados serão apresentados nos próximos seis meses.

De acordo com o chefe da Divisão de Geologia Marinha do SGB, Valter Sobrinho, essas atividades compõem um esforço abrangente para compreender as características físicas e ambientais da região da Foz do Amazonas, contribuindo significativamente para a ciência, conservação e desenvolvimento econômico da região. “Esperamos os primeiros resultados após os primeiros seis meses”, destacou Sobrinho.

Estarão na campanha pelo SGB o cientista-chefe da embarcação, Eugênio Pires Frazão, os coordenadores científicos Victor Hugo Rocha Lopes e Mauro Lisboa Souza, o analista oceanógrafo Vadim Harlamov e o geólogo pesquisador Eduardo Moussale Grissolia.


Estudos que serão utilizados

A batimetria é o estudo e mapeamento do fundo do mar. Envolve a obtenção de medições da profundidade do oceano e equivale ao mapeamento da topografia terrestre. Esse levantamento vai durar cerca de 15 dias e irá cobrir parte da área do estudo, que originalmente compreende a costa do Maranhão ao Amapá, para obter uma imagem precisa do relevo subaquático e as características do fundo oceânico.

Os dados batimétricos são usados para diversos fins, incluindo: mapeamento e navegação de navios, gestão das pescas, determinação das fronteiras marítimas, investigação sobre processos costeiros e correntes oceânicas, avaliação de considerações ambientais para gestão de recursos geológicos marinhos, entre outros.

O levantamento sonográfico, outra técnica que será utilizada, ajuda a criar imagens do fundo do mar e é útil porque, diferentemente das fotografias aéreas ou imagens de satélite, pode ser usada embaixo d’água, onde a luz não chega bem.

Já o levantamento sísmico vai ajudar a entender as camadas de sedimentos abaixo da superfície do mar e identificar rochas e outros minerais. Isso é feito enviando ondas sonoras por meio da água e medindo como elas ecoam de volta.

Será realizada, ainda, a amostragem de materiais geológicos, como rochas e sedimentos para a melhor caracterização do fundo oceânico e dos habitats.


Parcerias Estratégicas

O SGB, a Petrobras, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a Marinha do Brasil integram o Acordo de Governança para manutenção do Navio Hidroceanográfico Vital de Oliveira. Essa embarcação é a mais moderna e robusta do país para pesquisas no mar. O acordo de cooperação prevê o uso do navio para atendimento dos projetos institucionais dos parceiros.

Nesta expedição, coordenada e relacionada ao projeto do SGB, estão convidados os seguintes parceiros para pesquisas complementares: Petrobras, Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Estadual do Ceará e Programa de Geologia e Geofísica Marinha (UECE). Algumas das linhas de pesquisa incluem: caracterização química da água, análise de DNA dos organismos, entre outros.


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