Fósseis encontrados em Pernambuco revelam os mais antigos moluscos da família Iridinidae já registrados no mundo

27/05/2025 às 19h19
 | Atualizado em: 27/05/2025 às 20h16
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Descoberta feita por pesquisadores brasileiros reforça a importância do Brasil na paleontologia mundial e desafia teorias sobre a origem africana do grupo

Divulgação / SGB

Rio de Janeiro (RJ) – Uma descoberta feita por cientistas brasileiros está ajudando a reescrever parte da história evolutiva dos moluscos de água doce. Um artigo recém-publicado na revista científica Journal of South American Earth Sciences apresenta dois novos gêneros e espécies fósseis da família Iridinidae, identificados a partir de fósseis coletados no sertão de Pernambuco, na região da Bacia do Jatobá.

Os exemplares, batizados de Duplexium jatobensis e Anhapoa munizi, foram encontrados na Formação Salvador, datada do início do período Cretáceo (cerca de 140 milhões de anos atrás). Esses fósseis são agora os registros mais antigos da família Iridinidae no mundo e os primeiros encontrados na América do Sul, até então considerada fora da área de origem desse grupo, que se acreditava restrito à África.

O estudo (acesse neste link) é assinado por Débora Eliza Baumann, Luiz Ricardo L. Simone, Rafael Costa da Silva (pesquisador do Museu de Ciências da Terra/SGB) e Renato Pirani Ghilardi, em parceria com instituições como a Unesp (Bauru) e o Museu de Zoologia da USP.

Reescrevendo a história da fauna de água doce

A descoberta surpreende a comunidade científica porque contradiz a ideia de que os Iridinidae – moluscos de água doce, hoje encontrados quase exclusivamente no continente africano – teriam se originado apenas por lá. A presença desses fósseis no Brasil, datados de um período anterior à separação dos continentes sul-americano e africano, sugere que o grupo estava presente em Gondwana antes do rompimento do supercontinente.

Divulgação / SGB
“Trata-se de um achado de enorme relevância paleobiogeográfica, que mostra que esses moluscos existiam na América do Sul muito antes do que se imaginava. Isso pode indicar que o grupo tenha se originado aqui, ou pelo menos que era muito mais amplamente distribuído no Gondwana”, explica Rafael Costa da Silva, pesquisador do SGB e coautor do artigo.

 

Dois novos gêneros para a ciência

O artigo descreve em detalhes as características anatômicas que justificam a criação dos gêneros e espécies:

  • Duplexium jatobensis apresenta uma combinação inédita de dentição heterodonte e taxodonte, com uma concha longa e estreita, além de cicatrizes musculares específicas.
  • Anhapoa munizi possui morfologia distinta, com uma concha ovalada, também muito alongada e comprimida, e dentição heterodonte típica da família.

Os fósseis foram encontrados durante trabalhos de campo no canal de transposição do Rio São Francisco, onde o afloramento de rochas da Formação Salvador foi exposto por obras de infraestrutura.

Divulgação / SGB

Os exemplares analisados foram incorporados à coleção de paleontologia do Museu de Ciências da Terra (MCTer), no Rio de Janeiro, onde estão devidamente catalogados e disponíveis para futuras pesquisas.

 

Avanço na pesquisa e contribuição do SGB

O trabalho reforça o papel do SGB como instituição estratégica na geração e preservação de conhecimento paleontológico no Brasil. Além de apoiar atividades de campo e manter coleções científicas de referência, o SGB atua na divulgação de descobertas que contribuem para o entendimento da história da vida no planeta.

Embora não tenha aplicações econômicas diretas imediatas, a descoberta ajuda a esclarecer a evolução dos moluscos de água doce e reforça a importância da paleontologia brasileira na reconstrução dos processos geológicos e biogeográficos globais.

“Cada nova descoberta como essa reforça a importância de preservarmos e estudarmos nosso patrimônio geológico. O Brasil tem muito a revelar sobre os caminhos da vida ao longo da história da Terra”, conclui Rafael Costa da Silva.

 

Fábio Campos
Núcleo de Comunicação

Serviço Geológico do Brasil
Ministério de Minas e Energia
Governo Federal
imprensa@sgb.gov.br

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