Um novo momento para o Serviço Geológico do Brasil
Apresentamos aqui os aspectos fundamentais relacionados à recuperação do MCTer, meio século depois que um incêndio destruiu e inutilizou quase a metade da sua área útil. Desde 2018, o museu se encontra fechado, visando impedir a eminente possibilidade de ocorrer outro sinistro de proporções ainda maiores do que o incêndio de 1973. O destravamento dos projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I), financiados através da Petrobras pelo diretor-presidente do SGB-CPRM, Inácio Melo, e pelo então presidente da Petrobras, Jean P. Prates, representa o fim de inúmeras tentativas frustradas para a sua recuperação, tratando-se, portanto, de uma iniciativa relevante do ponto de vista científico, histórico e cultural para a cidade do Rio de Janeiro. Os projetos de PD&I desenvolvidos pelo SGB-CPRM e Petrobras visam a dotar o primeiro de uma sólida infraestrutura laboratorial capaz de eliminar uma lacuna tecnológica de pelo menos 30 anos. Os projetos foram aprovados duas vezes pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), que regulamenta o uso de recursos financeiros em PD&I em prol do setor, em 2019 e 2020, sendo que os projetos executivos para as obras civis, no valor de R$ 4,2 milhões, foram entregues pelo SGB-CPRM à Petrobras em agosto de 2022. O início das obras deve acontecer em 2024.
O belo prédio neoclássico situado na Av. Pasteur, 404, na Urca, tombado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), em 1994, tem sua história indissociável da própria história do Serviço Geológico do Brasil, sendo por isso considerado o Palácio da História Geológica Brasileira. O edifício levou 28 anos para ser construído na transição entre a monarquia e a república. O Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil (SGMB), quando foi criado em 1907, já possuía uma significativa coleção de minerais, rochas e fósseis, que ainda hoje constitui uma das mais importantes coleções do acervo do MCTer. Em 1933, o SGMB foi substituído pela Diretoria Geral de Produção Mineral, que no ano seguinte foi substituída pelo Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM). Nessa época e em anos seguintes, o prédio histórico era utilizado por diversos órgãos da administração federal, como o próprio DNPM e, a partir de 1938, o Conselho Nacional do Petróleo (CNP), tornando-se um dos mais conhecidos monumentos arquitetônicos da cidade.
O projeto PD&I de melhoria de infraestrutura laboratorial, que permitirá a revitalização do MCTer e seus laboratórios associados, constitui a maior oportunidade, desde sua criação, de transformá-lo em uma instituição de pesquisa científica, reconhecida pela sociedade acadêmica e pelo público em geral, tal como os museus científicos: Institut royal des Sciences naturelles de Belgique – Bruxelas, Bélgica; Museum für Naturkunde – Berlim, Alemanha; Natural History Museum – Londres, Reino Unido; Smithsonian National Museum of Natural History – Washington, EUA, que são vigorosos centros de geração de conhecimento nas áreas das geociências. O MCTer abriga uma das maiores coleções de fósseis do Brasil, com um acervo relevante nas áreas de paleontologia, mineralogia, rochas e meteoritos, além de vasta coleção bibliográfica e documental, valioso acervo iconográfico, como mapas e fotografias, e de instrumentos científicos.
A decisão do diretor-presidente do SGB-CPRM, Inácio Melo, em eleger os projetos de PD&I em parceria com a Petrobras como uma das prioridades de sua gestão, constituirá um ponto de inflexão na história da instituição. Ele ressalta que:
“Um monumento arquitetônico e científico com a história e importância do MCTer não pode deixar de funcionar em sua plenitude por ação de um incêndio ocorrido há 50 anos. O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, foi sensível aos nossos argumentos, concordando com a necessidade de retomar os projetos de PD&I de melhoria de infraestrutura laboratorial do Serviço Geológico do Brasil”.
“Para nós, gestores do SGB-CPRM e Petrobras, o MCTer será um novo museu, maior, mais belo, vivo e interativo e, o mais importante, voltará a ser um centro gerador de conhecimento científico nas bacias sedimentares brasileiras”, enfatiza o diretor-presidente do SGB-CPRM.
Tal decisão expressa também o carinho das duas instituições com a cidade do Rio de Janeiro, já que devolverá à cidade um dos seus mais importantes prédios neoclássicos, concluído em 1908 para comemorar o centenário da abertura dos portos do Brasil ao mundo.
“O MCTer será nosso importante veículo de comunicação com a sociedade. Aprendi com os meus colaboradores que a vida no planeta é uma concessão geológica. Caberá ao nosso museu, com seus projetos de PD&I, mostrar isso à sociedade”, conclui Inácio Melo.
Paulo Romano, coordenador geral da parceria com a Petrobras, ressalta:
“A parceria com a Petrobras e a sensibilidade da Agência Nacional do Petróleo em aprovar os projetos de PD&I de melhoria de infraestrutura laboratorial abrem a real possibilidade de revitalização do MCTer, não se restringindo apenas à recuperação da área queimada. Será uma revitalização profunda, incluindo a ampliação dos espaços e o melhor aparelhamento dos laboratórios, fundamentais para que voltemos à implementação dos programas educativos e da diversificação das exposições.
A parte externa do belo prédio será integralmente recuperada, suas instalações elétricas e hidráulicas serão inteiramente trocadas. Os espaços originais do MCTer serão destinados exclusivamente às atividades culturais e projetos de PD&I. Os pavilhões petróleo, metais e biomas permitirão a interação com o setor produtivo, permitindo assim a captação de recursos fundamentais para a manutenção futura do museu. O MCTer recuperará a sua importância em um momento em que o Serviço Geológico do Brasil, recentemente elevado à condição de Instituição Científica Tecnológica e de Inovação, ICT, constrói uma nova dimensão”.
Noevaldo Teixeira, coordenador técnico-operacional dos projetos com a Petrobras, salienta:
“A relação deste museu com o setor mineral e o setor de petróleo é marcante. Em uma de suas salas, técnicos brasileiros locaram o primeiro poço que provou que havia, sim, petróleo no Brasil. O poço Candeias 1, no Recôncavo Baiano, iniciou uma história de luta da sociedade brasileira, que em seu auge propiciou a criação da Petrobras e sua trajetória de sucesso técnico e empresarial, tendo na descoberta do Pré-sal, seu momento mais sublime. Sintomaticamente, é o Pré-sal que financia a recuperação do MCTer. Em relação aos metais, o geólogo da U.S. Steel Corporation, Erasto Boretti, coletou nos arquivos do MCTer as primeiras informações geológicas para montar os trabalhos de campo no sul do Pará, que culminaram com a descoberta de uma das mais importantes províncias minerais do planeta – Carajás.
Por abnegação de poucos, após o incêndio o museu continuou parcialmente aberto até 2018, mostrando a milhares de crianças, principais frequentadores do MCTer, como era a vida na terra há 90 milhões de anos atrás, como fazemos para achar petróleo a cinco mil metros de profundidade ou quais são os minerais extraídos nas entranhas do nosso território e como eles contribuem para o desenvolvimento social e econômico do nosso país”. “Queremos o MCTer estimulando o surgimento de novos cientistas, mostrando à sociedade a importância da explotação sustentável dos recursos naturais”, completa Noevaldo.
Célia Corsino, museóloga e coordenadora geral do MCTer, afirma:
“As instalações do Museu de Ciências da Terra estão no seu limite, dificultando muito a preservação das coleções. Então, o primeiro e fundamental passo é a realização de sua obra de recuperação. Mas não estamos parados aguardando o financiamento do projeto de obra civil. Trabalhamos na estruturação do museu, no planejamento estratégico, na elaboração do plano museológico e elaboramos também as políticas de gestão de acervo e o programa educativo do MCTer em consonância com a Política Nacional de Educação Museal, a PNEM.
Administrativamente, conseguimos que o museu fosse reconhecido regimentalmente na empresa, ajustamos o corpo de colaboradores e procuramos, a partir do credenciamento de instituições do terceiro setor, parceiros para apresentar projetos consoantes com as leis de incentivos fiscais da área cultural. Fazendo parte de uma ICT e podendo elaborar projetos também na área cultural, o MCTer estará preparado para enfrentar os desafios da manutenção de uma instituição museológica nacional de grande porte e se consolidar, não só pela importância de seu acervo, mas por sua atuação de pesquisa, inovação e como centro de difusão e disseminação das geociências em projetos educativos culturais na sede do MCTer ou no incremento do Programa Museu em Movimento, que leva o Museu para atividades fora de sua sede.