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Sistema de Cadastro e Quantificação de Geossítios e Sítios da Geodiversidade


O presente aplicativo é destinado ao inventário, qualificação e avaliação quantitativa de Geossitios e de Sítios da Geodiversidade, em nível nacional e também em áreas envolvendo geoparques. É de livre consulta e foi estruturado originalmente segundo as metodologias de BRILHA (2005) e GARCIA-CORTÉS & URQUÍ (2009). Posteriormente, o aplicativo passou a adotar a metodologia e conceitos de BRILHA (2016), com adaptações, o que tornou necessário modificar os critérios de avaliação quantitativa, apresentados em tabelas de valor científico, potencial uso educativo e turístico e risco de degradação.


A identificação de um geossítio deve passar pelo reconhecimento da presença dos seguintes critérios: representatividade, integridade, raridade e conhecimento científico. Os geossítios representam as ocorrências in situ de partes da geodiversidade de alto valor científico que, em conjunto com as correspondentes ocorrências ex situ (coleções de museu) constituem o Patrimônio Geológico. Considerando que o patrimônio geológico é somente justificável pelo seu valor científico, a sua relevância somente pode ser nacional ou internacional, uma vez que não existe “ciência local”. Um local de interesse geológico é considerado geossítio de relevância nacional quando, durante a avaliação por este aplicativo, seu valor científico é igual ou maior que 200 e de relevância internacional quando este valor for maior que 300.


Existem outros valores da geodiversidade que não apresentam valor científico significativo, mas são importantes recursos para a educação e para o turismo. Estes, quando encontrados in situ, são denominados Sítios da Geodiversidade ou, quando encontrados ex situ, são simplesmente referidos como Elementos da Geodiversidade. Essas ocorrências são consideradas como de interesse nacional quando o potencial educativo e turístico tem valor igual ou maior que 200. Valores menores que 200 caracterizam Sítios da Geodiversidade de importância regional ou local com interesse na área de um geoparque ou em contextos similares.


O Brasil tem uma das maiores geodiversidades do mundo, por ter elementos que representam praticamente toda a história geológica do planeta, desde os primórdios até os tempos atuais. A geodiversidade representa a natureza abiótica (meio físico) constituída por uma variedade de ambientes, fenômenos e processos geológicos que dão origem às paisagens, rochas, minerais, fósseis, água, solos e outros depósitos superficiais que propiciam o desenvolvimento da vida na Terra. Somente uma pequena parte da geodiversidade – parcelas especiais que constituem locais-chave para o entendimento da história, e da dinâmica e da vida na Terra desde a sua formação – deve ser preservada para futuras gerações e tem valor relevante para justificar a implementação de estratégias de geoconservação.



Geólogo Carlos Schobbenhaus

carlos.schobbenhaus@cprm.gov.br

Presidente da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos-SIGEP

Mylène Berbert-Born

mylene.berbertborn@cprm.gov.br

Coordenador do Aplicativo de Cadastro de Geossítios


Referências:

Aviso

AVALIAÇÃO QUALITATIVA DE UM POTENCIAL GEOSSÍTIO


A avaliação qualitativa de um potencial geossítio deve seguir os seguintes critérios propostos por Brilha (2015):


(i) Representatividade: relativa à adequação do geossítio para ilustrar um processo geológico ou qualidade, que traz uma contribuição significativa para a compreensão do tema , processo, característica ou contexto geológico;
(ii) Integridade: relacionado com o presente estado da conservação geossítio, tendo em conta os processos naturais e ações humanas;
(iii) Raridade: número de geossítios na área de estudo apresentando características geológicas semelhantes;
(iv) Conhecimento científico: com base na existência de dados científicos já publicados sobre o geossítio.


A seleção de potenciais geossítios, ou seja, sítios geológicos com valor científico, deve destacar ocorrências que melhor representam um determinado material ou processo geológico, que estão com melhor estado de conservação possível, que apresentam características raras, e onde dados científicos significativos foram obtidos e publicados. Apesar de que os três primeiros critérios não apresentem controvérsias, o mesmo não pode ser dito com relação ao quarto critério. A inexistência de literatura científica sobre um determinado sítio geológico não implica necessariamente que não tenha valor científico. Esse fato pode apenas significar que a ocorrência é nova para a comunidade científica e que nenhum trabalho científico significativo tem sido feito até agora. Apesar da validade, ou não, do presente argumento, não devemos esquecer que as ocorrências geológicas que tenham originado publicações científicas têm sempre uma particular relevância. No inventário e avaliação de geossítios não há critérios ou métodos infalíveis. Há sempre uma determinada subjetividade que deve ser minimizada pela boa formação científica dos geocientistas envolvidos nessas tarefas e através da utilização de uma metodologia sólida. Se depois na avaliação quantitativa de um potencial geossítio ele tem um valor muito baixo de valor científico, isso levanta a hipótese de saber se esse local será realmente um geossítio. No presente aplicativo o valor limite adotado é 200, abaixo do qual não será caracterizado como um geossítio, ou seja, não terá valor científico significativo. Provavelmente trata-se de um sítio da geodiversidade.


No sentido de aumentar o impacto de um geossítio na sociedade, cada geossítio cadastrado pode ser avaliado por seu uso potencial para a educação e / ou turismo. No entanto, não há geossítio se a relevância geológica está irremediavelmente afetada. Isto significa que se houver um elevado risco de deterioração, seus usos educacionais e / ou turísticos não devem ser implementados em um geossítio.

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL USO DE SÍTIOS DA GEODIVERSIDADE(Brilha, 2015)


Os sítios da geodiversidade correspondem a ocorrências da geodiversidade que não têm valor científico significativo, no entanto, devido ao seu relevante valor educativo e/ou turístico devem ser conservados para permitir o uso sustentável da geodiversidade pela sociedade. Estes sítios também podem ter um importante significado cultural para a identidade das comunidades locais. Da mesma forma como nos geossítios, o cadastro de sítios da geodiversidade começa com a revisão da literatura geológica e à consulta de especialistas com experiência de trabalho na área de estudo. Para o inventário dos sítios com valor educativo, é importante pesquisar quais sítios já estão sendo usados em atividades educativas. No caso do inventário dos sítios com valor turístico, também é importante rever a documentação turística na área (folhetos, sites, etc.), a fim de adicionar mais alguns sítios à lista de potenciais sítios da geodiversidade. Cada local com potencial valor educativo deve ser avaliado qualitativamente usando os quatro critérios seguintes:

(a) Potencial Didático: relacionado com a capacidade de um recurso geológico ser facilmente compreendido pelos estudantes de diferentes níveis de ensino (escolas primárias e secundárias, universidades);

(b) Diversidade Geológica: número de diferentes tipos de feições da geodiversidade no mesmo local;

(c) Acessibilidade: condições de acesso ao local por estudantes comuns, em termos de dificuldade e tempo gasto a pé;

(d) Segurança: relacionado com as condições de visita para os alunos, levando em consideração o mínimo risco.


Assim, para a seleção de sítios da geodiversidade com alto valor educativo, ocorrências devem ter diferentes características geológicas facilmente compreendidas pelos alunos de diferentes níveis de ensino, com acesso rápido e confortável e onde os alunos podem observar o local em boas condições de segurança.


Da mesma forma, sítios da geodiversidade com potencial uso turístico devem ser qualitativamente avaliados utilizando o seguinte quatro critérios:

(a) Cenário: associado com a beleza visual do sítio geológico (paisagem ou afloramento);

(b) Potencial Interpretativo: relacionado com a capacidade de um recurso geológico ser facilmente entendido por leigos;

(c) Acessibilidade: condições de acesso ao local, em termos de dificuldade e tempo de caminhada para o público em geral;

(d) Segurança: relacionado com as condições de visita, levando em consideração o mínimo risco para os visitantes.


Assim, sítios da geodiversidade com alto valor turístico devem apresentar beleza visual agradável para a maioria do público, com recursos geológicos que podem ser facilmente observados e compreendidos por não especialistas, sob boas condições de segurança e com acesso rápido e confortável. No presente aplicativo o valor limite de 200 foi definido para os sítios da geodiversidade de potencial uso educativo ou turístico de relevância nacional. Abaixo desse valor os sítios da geodiversidade tem relevância regional/local e interessam somente a áreas relacionadas a geoparques.

CONCEITO DE GEOPARQUE


Geoparque (geopark) é um conceito atribuído pela Rede Global de Geoparques sob os auspícios da UNESCO, a uma área onde sítios do patrimônio geológico representam parte de um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável. Um geoparque deve gerar atividade econômica, notadamente através do turismo, e envolve um número de geossítios e sítios da geodiversidade, incluindo formas de relevo e suas paisagens. Aspectos arqueológicos, ecológicos, históricos ou culturais podem representar importantes componentes de um geoparque. No Brasil existe até o momento um geoparque (Araripe Geopark) , além de diversos geoparques aspirantes.


Geograficamente, um geoparque representa uma área suficientemente grande e limites bem definidos para servir ao desenvolvimento econômico local, no entanto um geoparque não é uma unidade de conservação, nem é uma nova categoria de área protegida.


Em suma, um geoparque no conceito da UNESCO deve:


a) Preservar o patrimônio geológico para futuras gerações (geoconservação);

b) Educar e ensinar o grande público sobre temas geológicos e ambientais e prover meios de pesquisa para as geociências;

c) Assegurar o desenvolvimento sustentável através do geoturismo, reforçando a identificação da população com sua região, promovendo o respeito ao meio ambiente e estimulando a atividade socioeconômica com a criação de empreendimentos locais, pequenos negócios, indústrias de hospedagem e novos empregos;

d) Gerar novas fontes de renda para a população local e a atrair capital privado.


Em 2006, o Serviço Geológico do Brasil – CPRM criou o Projeto Geoparques com o objetivo de catalisar a criação de novos geoparques no Brasil. Iniciativas similares também ocorrem em nível estadual.


Um geoparque envolve geossítios de relevância nacional e internacional e sítios da geodiversidade de relevância nacional e regional/local. No presente aplicativo o valor limite de 200 foi definido para sítios da geodiversidade de potencial uso educativo ou turístico de relevância nacional. Abaixo desse valor os sítios da geodiversidade tem relevância regional/local.